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Pela duração (1912-1916), pelo território abrangido (o planalto catarinense), pelos rebeldes mortos (cerca de dez mil), pelo número de soldados do Exército envolvidos (mais de seis mil, sem contar os mais de dois mil policiais e vaqueanos), a chamada Guerra do Contestado lutada no território de mesmo nome teve maior dimensão do que a de Canudos. No entanto, o tenso ambiente político nacional, o pavor de uma reação monárquica, a concentração do conflito em apenas um arraial e, sobretudo, a extraordinária denúncia de Euclides da Cunha deram a Canudos uma visibilidade muito maior. Até a década final do século passado, poucos estudos tinham sido publicados sobre o Contestado. Houve, no entanto, daí para cá, verdadeira onda de obras, artigos e livros, publicados sobre o tema, a grande maioria vinda de jovens pesquisadores, sobretudo catarinenses, agregados em um grupo de pesquisa sob a liderança de Paulo Pinheiro Machado.

Este livro é um dos frutos do esforço desse grupo. Trata-se de uma coletânea de 60 artigos curtos, escritos em linguagem acessível, que, no conjunto, cobrem quase todas as dimensões do conflito: a histórica, a demográfica, a geográfica, a política, a antropológica, a religiosa, a econômica, a militar. Trata-se de uma introdução completa ao tema. Cabe enfatizar alguns pontos. Não houve, propriamente, uma guerra do Contestado e, sim, uma guerra no Contestado. Uma guerra de ‘caboclos’, trabalhadores e pequenos proprietários, movidos pela crença religiosa pregada pelo monge João Maria, que buscavam defender-se, de armas na mão, dos coronéis donos de terra e de empresas estrangeiras que, com o apoio das polícias estaduais e do Exército nacional, os expulsavam de suas terras, combatiam seus costumes e os dizimavam.

É particularmente doloroso o fato de que o comandante das tropas do Exército, General Setembrino de Carvalho, tenha usado, explicitamente, o conflito para treinar e modernizar sua corporação à custa da vida de milhares de brasileiros. Será grande a contribuição deste livro para conferir à guerra travada no Contestado a importância que lhe cabe em nossa história, sobretudo na história das vítimas. José Murilo de Carvalho