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A partir da década de 1940, os jovens passaram a gozar de autonomia e a viver sociabilidades específicas dessa fase. No Brasil, se parte dessa juventude multiplicou as ofertas da indústria da cultura - a dos festivais de música, das telas e televisões, das revistas, do esporte, da moda, da droga -, outra parte continuou a lutar contra o autoritarismo, a desigualdade, o racismo, o preconceito e as dificuldades de acesso à educação. Neste livro, para entendermos os jovens de hoje, o passado dessas juventudes histórica e socialmente tão desiguais é tratado com excepcional cuidado por historiadoras e historiadores.

O Brasil é um país de jovens? Era até pouco tempo atrás. O século XX lhes deu visibilidade e, ao mesmo tempo, produziu a impressão de que a juventude sempre existiu. E de que ela seria eterna ... Mas não é: a juventude é uma idade social e historicamente determinada, condicionada por fatores evolutivos e pela condição social de cada jovem.

Atualmente, o lugar dos jovens em nossa sociedade e a representação que os adultos fazem deles nos permitem compreender nossa relação com a passagem do tempo e o ritmo das estações da vida.

Em História dos jovens no Brasil, voltamos ao passado para melhor compreendermos nosso tempo e a sociedade de que somos parte, produto e testemunho. E o passado é fundamental. Raízes, heranças e permanência estão lá. Nosso presente é cego quando ele se quer independente e detentor de ‘autointeligibilidade’, como alertava o historiador francês Marc Bloch.

Não podemos nunca imaginar que escravidão, repressão, ditadura e cultura de massas não tenham nada a ver com a contemporaneidade. Pelo contrário: elas demonstram que nossa ‘modernidade’ é habitada pela recorrência não apenas de problemas e diagnósticos, mas também de soluções que nos foram legadas. Portanto, para entendermos e caminharmos ao lado dos jovens de hoje, ouçamos os jovens do passado.
- Mary Del Priore