Descripción:
Quando a imprensa brasileira começava a ganhar seus contornos mais nítidos como espaço público de debate de ideias, uma pequena revista fluminense tomou para si a missão de educar o gosto musical do povo. Para a Gazeta Musical, publicada entre 1891 e 1893 no Rio de Janeiro por iniciativa do vendedor de partituras e pianos Fertin de Vasconcellos, o que estava em jogo não era somente o suposto ‘atraso’ artístico do Brasil em relação à Europa, mas sim o futuro e o progresso da nação.

Através da minuciosa análise do discurso dos principais colunistas do periódico, Clarissa Lapolla Bomfim Andrade consegue extrair, de aparentemente simples artigos de revista, a ideologia subjacente à classe de artistas e intelectuais que, a partir de 1890, instauraram o poder republicano e, com ele, um projeto de educação musical que permitiria medir o ‘grau de adiantamento’ da nação no cenário internacional.

Utilizando como ponto de partida duas linhas de pensamento legadas pela Europa - o positivismo de Augusto Comte (1798- 1857) e o ‘wagnerisme’, inspirado no compositor Richard Wagner (1813-1883) -, a presente pesquisa traz à tona a peleja ainda atual entre erudito e popular, civilizado e primitivo, arte e entretenimento, campo de guerra em que por vezes os red atores de a Gazeta Musical mascaravam, sob pretensas críticas imparciais, as suas próprias crenças políticas e estéticas.


Clarissa Lapolla Bomfim Andrade é bacharel em Flauta pela Faculdade de Artes Santa Marcelina de São Paulo e possui mestrado em Musicologia Histórica pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi integrante da Orquestra da Rádio e Televisão Cultura de São Paulo e da Nova Filarmónica de São Paulo. Atua em diversos grupos de música de câmara e projetas didáticos de música em escolas e instituições culturais. Sua dissertação de mestrado foi contemplada com o Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2012) e recebeu o apoio da Association Internationale La Maison d’Auguste Comte para sua publicação.